A morte no espelho, por Ademar Traiano

A prisão se tornou mais próxima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a recusa, unânime, do Superior Tribunal de Justiça de conceder um habeas corpus preventivo. As manobras do PT ficam mais desesperadas, inconvenientes e ineficazes. Entre elas, uma constrangedora ‘invasão’ do gabinete da presidente do STF, Cármen Lúcia, por um grupo de petistas liderados pela incorrigível senadora petista Gleisi Hoffmann.

A inocência de Lula se transformou em um ponto de fé que só convence os crédulos. As linhas de defesa do ex-presidente vão demonstrando sua enorme fragilidade depois que sua repetição infinita evidencia sua total inconsistência. Os argumentos de Lula, e de seu esquadrão de advogados, para tentar demonstrar ausência de culpa transitam entre a irrelevância e o ridículo.

Um caso exemplar é a tese que uma das ‘provas’ da inocência de Lula ser o fato que durante governos do PT foram aprovados, ou entraram em vigor, dispositivos que permitiram uma ação mais desenvolta da Polícia Federal e do Ministério Público. É verdade que essas alterações acabaram por facilitar o desbaratamento da rede de corrupção revelada pela Operação Lava Jato. Mas só mesmo a mais rematada tolice, ou o mais encarniçado cinismo, permite supor que o PT participou da implantação dessas medidas pretendendo aumentar a moralidade administrativa e colocar o próprio pescoço na guilhotina.

“Muita gente pensa que eu sou contra a Operação Lava Jato. Eu tenho orgulho de pertencer a um partido e a um governo que criou os mecanismos mais eficientes de combate à lavagem de dinheiro e à corrupção nesse país”, disse Lula em recente entrevista à jornalista Monica Bergamo da Folha de S. Paulo.

Na verdade, a circunstância narrada por Lula não prova nada. Em 1999 o síndico de um prédio em São Paulo matou com três tiros, dois na cabeça e um na barriga, um morador do seu condomínio. O crime foi registrado pelas pelo circuito interno de televisão do edifício. O próprio síndico matador havia instalado essas câmeras no condomínio.

Certamente o PT, assim como síndico paulista, não pensava em coibir os próprios crimes quando mecanismos que permitiram maior controle sobre atividades ilícitas foram aprovados e colocados em prática. Quando lança mão desse tipo de argumento só revela que sua desfaçatez não conhece mais qualquer tipo de limite.

A polícia demonstrou que o síndico homicida, Selsino Gonçalves Souto, acreditou que, cometendo o crime no hall do apartamento da vítima, onde não havia câmeras, não seria flagrado pela filmadora instalada no elevador. Mas as lentes da máquina acabaram registrando os reflexos do homicídio pelo espelho, produzindo uma prova de culpa definitiva.

Assim como síndico paulista não instalou as câmeras no prédio para se incriminar, não foi, obviamente, com o objetivo implicar Lula e o PT que tais dispositivos legais entraram em vigor nos governos petistas.

O espelho do elevador levou o síndico para a prisão. O espelho da Lava Jato mostrou ao país a face real do PT.

* Ademar Traiano é deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa e vice-presidente do PSDB do Paraná